Variação mensal de área desmatada
Dados do projeto DETER para o ano de referência (agosto-julho)



Histórico de devastação
Taxas oficiais de desmatamento na Amazônia, calculadas pelo PRODES


Histórico de desmatamento na Amazônia, mapeado pelo projeto PRODES, do INPE. Verde é floresta; amarelo são áreas já desmatadas em algum momento desde 1988; branco são áreas naturais de vegetação não florestal ou cobertas por nuvens. Fonte: TerraBrasillis/Prodes/Inpe
Os sistemas não indicam qual foi a causa do desmatamento, apenas comprovam que ele ocorreu; mas é fato sabido — comprovado por diversos estudos — que a maior parte dessas derrubadas na Amazônia ocorre à margem da lei. Segundo um levantamento feito pelo projeto MapBiomas Alerta, mais de 99% dos desmatamentos registrados no Brasil em 2019 tiveram algum tipo de irregularidade associada a eles, ou porque o desmatamento foi feito sem autorização legal ou porque avançou sobre alguma área proibida, como unidades de conservação, terras indígenas ou Áreas de Preservação Permanente (APPs).Estudos indicam também que o desmatamento ilegal está intimamente associado à especulação e grilagem de terras públicas na região. Em torno disso giram ainda a exploração predatória de madeira, o garimpo e outras atividades ilegais.Além de ilegal, a destruição da maior floresta tropical do mundo configura um verdadeiro “crime de lesa-pátria”, e uma “grande burrice”, nas palavras do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. “Desmatar a Amazônia é perder riqueza”, resumiu ele, num evento recente na internet, citando os impactos severos sobre a biodiversidade, o clima e o agronegócio do País.O desmatamento é a maior fonte de emissão de gases do efeito estufa no Brasil, que contribuem para o aquecimento global, e a preservação da floresta é absolutamente crucial para a manutenção dos processos biológicos e climáticos que levam chuva para as regiões Centro-Oeste e Sudeste, irrigando lavouras e abastecendo reservatórios essenciais para a segurança hídrica, energética e alimentar do País.A meta assumida pelo Brasil em 2016 perante a Convenção do Clima das Nações Unidas, no Acordo de Paris, é zerar o desmatamento ilegal no País até 2030. Internamente, o Plano Plurianual (PPA), aprovado pelo próprio governo federal em dezembro de 2019, tem como meta reduzir o desmatamento e as queimadas ilegais no País em 90% até 2023. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, recentemente cogitou derrubar essa meta, mas acabou voltando atrás na decisão, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.O aumento do desmatamento, portanto, contraria uma série de compromissos legais, políticos e diplomáticos assumidos pelo Brasil nos últimos anos — incluindo, ainda, o Decreto 9.578 / 2018, referente à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que determina uma redução de 80% nos índices anuais de desmatamento em relação à media do período 1996-2005 (19.500 km2/ano). “Isso equivale a atingir uma taxa de 3.900 km2 em 2020, o que obviamente não conseguiremos, de acordo com os dados do Deter”, observa o chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, Luiz Aragão.Queima de vegetação em área com desmatamento recente, detectado pelo DETER, em Alta Floresta (MT) – Foto: Christian Braga / Greenpeace
Além do aumento da área total desmatada, há outras mudanças preocupantes. Grandes desmatamentos, com centenas de hectares de extensão, voltaram a aparecer nas imagens de satélite, e há um aumento expressivo nas invasões de terras indígenas e unidades de conservação.“A solução para a crise atual não virá com a adoção de medidas teatrais”, diz uma carta assinada por mais de 60 organizações da sociedade civil, enviada nesta quinta-feira (6 de agosto) a uma série de lideranças políticas e investidores, no Brasil e no exterior. O documento sugere cinco “medidas emergenciais” para combater o desmatamento, incluindo uma moratória de “no mínimo cinco anos” à derrubada da floresta e o fortalecimento dos órgãos de fiscalização ambiental, como Ibama, ICMBio e Funai.“O Brasil já soube reduzir a taxa de desmatamento na Amazônia e ao mesmo tempo promover o aumento de sua produção agrícola e das exportações, gerando empregos e crescimento econômico”, diz a carta. “O atual governo, porém, não apresenta qualquer resquício de interesse ou capacidade em seguir este caminho. Suas ações baseiam-se em medidas falaciosas e campanhas publicitárias que tentam mascarar a realidade.”Artaxo, da USP, reconhece que houve uma “mudança de discurso” por parte do governo nos últimos meses, mais favorável à conservação, mas duvida que esse discurso se transforme em ações concretas contra o desmatamento por conta própria. “Infelizmente, a opinião pública importa muito pouco para esse governo”, diz. “Acho que a única coisa capaz de mudar esse quadro, de fato, são as ameaças de boicote econômico.”O governo vem sendo fortemente pressionado a mudar sua postura com relação ao meio ambiente — não mais, apenas, por cientistas e ambientalistas, mas também por grandes bancos, empresários e fundos de investimento nacionais e internacionais, que ameaçam tirar seus negócios do País se o governo não pôr fim ao desmatamento e adotar uma agenda de desenvolvimento mais sustentável.








